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Tipicidade, débito ou crédito?
Semana passada, passamos quatro dias atendendo em um evento de divulgação e venda de vinhos. Estes encontros estão cada vez mais organizados, prestigiados e os consumidores cada vez mais exigentes e curiosos.
Surgem todos os tipos de perguntas sobre os vinhos, como por exemplo: - vocês fazem vinho para sagu? – vocês tem vinho suave? – vocês tem vinho vegano? – quais vinhos que vocês produzem são biodinâmicos? – o percentual de álcool indicado no rótulo é verdadeiro? – como esta o vinho desta safra? – tem sabor de uva neste vinho ou de madeira? – no aplicativo tal e tal seu vinho esta ainda mais em conta, você sabia?
Público criativo e curioso movimenta o segmento, penso eu em busca de paciência para entender o que o consumidor precisa nos dias de hoje. Algumas conversas são interessantes e conhecemos pessoas que na “vida real” poderíamos até mesmo nos tornar bons amigos e começamos a falar daquela safra especifica do vinho sendo divulgada naquele evento e acabamos abordando a tão sonhada busca pela repetição de identidade ou tipicidade na elaboração dos vinhos.
Isso mesmo, a maioria dos produtores de vinhos adoraria fazer vinhos sempre iguais para que os mesmos sejam identificados pelos apaixonados pela marca ou rótulo e comprados em grande quantidade, pois em teoria manteriam a qualidade esperada e já conhecida pelo mercado. Mas infelizmente igualar sempre é tarefa quase impossível e acabamos nos contentando em fazer vinhos de personalidades semelhantes, fortes e com a mesma tipicidade.
Vejam o exemplo do vinho em destaque Salamanca do Jarau que já esta em sua quarta safra sendo que três delas (2012, 2013 e agora 2014) já estão disponíveis no mercado. No ano de 2012 fez muito sol e as uvas estavam sequinhas, já em 2013 choveu muito e as uvas guardaram mais água e já em 2014 foi um pouco de cada coisa (tempo maluco) e tivemos mais tempo seco com ventos fortes na Campanha Gaúcha.
Portanto são vinhos distintos, elaborados pelo mesmo enólogo, dentro da mesma vinícola, mesmo rótulo com barricas semelhantes e com técnicas muito parecidas. Por isso que o produto mantém a sua origem e tipicidade e as pessoas acabam tentando entender variações no terroir de um ano para o outro. Exatamente neste ponto encontramos a beleza do mundo do vinho: variações são possíveis e aceitáveis. E muitas delas podem ser descobertas em degustações de várias safras do mesmo produtor.
O que tínhamos disponível no evento, uma oportunidade exclusiva de poder adquirir um kit com as três safras deste cabernet sauvignon tinto elaborado com leveduras selvagens em Rosário do Sul. Dai ficava muito fácil perguntar ao consumidor conhecedor e interessado em entender nosso trabalho: débito ou crédito?